Bailarino,
professor e coreógrafo francês, foi uma personalidade que mudou os
rumos da dança. Começou a dançar aos 14 anos como aluno de Louis Dupré,
na Academia Francesa de Música e Dança que depois se tornaria a gloriosa
Ópera de Paris. Se tornou amigo de Marie Sallé, uma de suas
companheiras em idéias revolucionárias e por sua indicação dançou na
corte de Fontainebleau. A maturidade de sua carreira começou quando
passou alguns anos em Berlim, estudando, trabalhando e convivendo com
grandes bailarinos. Quando volta a Paris, assume a direção da
Ópera-Comique e começa a criar inúmeros espetáculos de dança, que aos
poucos o deixam conhecido internacionalmente. "Noverre ultrapassa os
princípios gerais que norteavam a dança do seu tempo para enfrentar
problemas relativos à execução da obra. A sua proposta era atribuir
expressividade a dança através da pantomima, utilizando mãos braços e
feições para, segundo ele, sensibilizar e emocionar. Sugere a
simplificação na execução dos passos e sutileza nos movimentos para uma
ideal expressividade na interpretação da dança. Para Noverre, a dança em
ação é a forma de interpretar as idéias escritas na música com verdade
ao executar os gestos na dança. Noverre
sentia-se orgulhoso de ter simplificado as alegorias na vestimenta e
exigir ação, movimentações na cena e expressão à dança. A grande reforma
que distingue o séc. XVIII do XVII e o aproxima do XIX é a criação do
termo dado por Noverre no século XVII que se conservou sem mudanças até o
século XIX."
"(...)Noverre
era conhecido por alguns como Sheakespeare da dança. Embora tivesse
criado cerca de 150 ballets em Paris, Viena e Stuttgart, sua influência
foi mais como reformador. O objetivo de Noverre era libertar o corpo
expressivo do bailarino de posições estereotipadas, libertar o corpo de
máscaras pesadas e arquivar as armaduras incômodas de danças de batalhas
e outras vestimentas que escondiam o corpo. Nos tempos do rococó que
ocultava belas formas com enfeites extravagantes, o livro Lettres sur la
Danse at sur les Ballets (1760-1807) de Noverre, abriu uma era nova.
Suas teorias de Ballet d'action e de movimento expressivo se difundiram
pela Europa até São Petesburgo e ainda servem ao Ballet Moderno."
"Noverre,
que Voltaire considerava 'um Prometeu', era originário da província,
portanto, não era um parisiense legítimo, mas falava numa voz que
atingia os bailarinos de toda a Europa: "Filhos de Terpsícore, renunciem
as cabriolas, os entrechats e passos excessivamente complicados,
abandonem caretas e estudem sentimentos; abandonem graça e expressões
sem arte; aprendam a dar nobreza aos gestos, não esqueçam que isso é o
sangue da dança; ponham critérios e significados em seus Pas de Deux;
deixem que a força de vontade indique o caminho e que o bom gosto esteja
presente em todas as situações; fora com essas máscaras sem vida, que
são cópias pobres da natureza. Quando Noverre se refugiou em Londres por
causa da Revolução Francesa, ele também voltou às convenções caducas do
Ballet Profissional, contradizendo suas mensagens contra regras
engessadas. Agora ele decretava que os pés dos dançarinos não deviam se
afastar mais de quarenta centímetros, que nunca devia haver mais de
trinta e dois dançarinos em um palco, e que nenhuma música já composta
devia ser usada por um coreógrafo. Mas as idéias anteriores de Noverre,
não podiam simplesmente voltar para a garrafa. Ele já tinha soltado a
dança e possibilitado o Ballet Romântico baseado em leveza e graça. Foi
esse o Ballet que dominou os palcos das capitais européias no século
XIX."
NOVERRE - CARTAS SOBRE A DANÇA
Marianna Monteiro
São Paulo: EDUSP; FAPESP, 2006
392 p.
Marianna Monteiro
São Paulo: EDUSP; FAPESP, 2006
392 p.
A
leitura crítica dos textos de Noverre é de importância fundamental para
o desenvolvimento de qualquer reflexão criteriosa sobre os espetáculos
de dança da modernidade. A partir deste pressuposto Mariana Monteiro
conduz sua análise no livro 'Noverre - Cartas sobre a dança - Natureza e
artifício no Balé de Ação' . A autora contextualiza a atuação do
bailarino e seu discurso teórico no universo artístico e intelectual
dos meados do século XVIII, no qual as reflexões estéticas eram
mobilizadas pelo mesmo impulso renovador que atingia todos os campos do
saber.
Fonte: Dança Educativa Moderna, de Rudolph Laban - Os Criadores: Uma História da Criatividade Humana.
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